"Tem vezes que parece caber o mundo inteiro dentro de mim.
Todos os amores um a um. E aí não compreendo mais a necessidade que tinha de aprisionar
o amor. Está certo, dói quando amor quer ir embora e a gente não quer deixar. E aí recorremos a
gaiolas e correntes, tentando impedi-lo de voar por aí. Mas depois as
tentativas se desfazem, vem chegando o desconforto. Os esforços vão sendo
deixados de lado, a loucura de manter-se a qualquer preço naquele lugar vai se
acabando e aí a gente entende que, às vezes, o que de melhor pode acontecer é o
amor acabar. Porque aí as mágoas são deixadas de lado, não sentimos mais raiva. Chega a ausência,
trazendo com ela a saudade, depois o alívio. Quem sabe até a resignação?
Começamos a re-significar o que sentíamos, como sentíamos. As cores mudam. O
vermelho vai desbotando e se misturando com outras cores, com azul, vai se
tornando roxo, mas depois vem o branco, deixa tudo meio lilás. O lilás se soma
a outras cores e tudo vai ganhando uma forma nova, uma cara nova. Daí o amor
pode se pintar de amizade. Podendo ficar meio rosa. Podemos perceber então que as
coisas vão se reacomodando dentro da gente, ganhando outros espaços, abrindo
alguns, deixando outros vazios. Mas ninguém precisa ir embora de dentro da
gente. Porque quando se é feito de amor cabem juntos dentro de nós presente,
passado e futuro. Tudo assim misturado. Configurando o que a gente é, como é,
com quem é. E aí tudo pode ficar bom de novo, a gente fica meio manchadinho com esse
monte de cores, mas o melhor que a vida tem mesmo é esse pintar-se,
re-pintar-se, até que uma hora a gente vá descolorir de novo. E buscar novas cores."
/Fernanda.